Baía da Guanabara, Rio de Janeiro, Brasil
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
Sobre o diálogo, diferenças e transformação
A educação é um conceito fundamental na construção de uma
sociedade. Toda civilização humana necessita de formação de indivíduos visando
à realização de papéis diferenciados que em conjunto formem um organismo que
funcione bem. Entretanto, enfrentamos problemas profundos na distribuição dos
ganhos dessas produções, desde financeiros a própria difusão do conhecimento.
Nos moldes sociais da atualidade, dificilmente teríamos um panorama mais
igualitário possível, justo e ético. Há diversas formas de mudanças, nenhum
paradigma é eterno e as evoluções das civilizações humanas nos mostram que a
transformação de conceitos e visões é possível, ainda que lenta. Neste cenário,
a educação se torna uma ferramenta forte para essa transformação.
A
educação popular apresenta-se como uma oportunidade de quebrar barreiras
impostas pelo tradicionalismo histórico das instituições que trabalham com este
pilar da sociedade. Ainda vivemos na época em que essas instituições, como
escolas, são extremamente tradicionais e não se adaptam a realidade e as
variações existentes na sociedade. O “popular” não é usado como deveria neste
tipo de instituição. Dificilmente o que o povo conhece é realmente usado como
gênese de um pensamento crítico e discussões importantes para a formação de
cidadãos. Antes de entrar na discussão de como uma educação popular pode ser
fundamental para a construção de novos paradigmas interessantes, é necessária
uma pequena, mas importante reflexão do que a escola, que usaremos como base
deste trabalho, representa nos dias de hoje.
O
principal objetivo da escola atualmente é a formação de indivíduos com um
mínimo conhecimento de disciplinas obrigatórias seguindo os mesmos moldes
tradicionais europeus de séculos passados. Ainda corre em paralelo a
preocupação na passagem do vestibular, como uma chance única e principal de dar
forças à velha expressão popular: “ser alguém na vida”. De fato, receber
ensinamentos é base para “ser alguém na vida”, mas que tipo de “alguém” e que
tipo de “vida” a escola atual objetiva? Como postulado por Althusser, a escola
é um aparelho ideológico do Estado e cumpre aquilo que as camadas que estão no
poder determinam, favorecendo o funcionamento de seu próprio ciclo de
interesses. Ainda que continuemos vivendo em uma sociedade organizada em
hierarquia, capitalista e neoliberal, esta prática é mesquinha. A função da
aprendizagem não é ter a escola como um “fábrica fordista de mão de obra”. A
escola deveria ser um local atrativo onde fosse dada a oportunidade as
populações de se inter-relacionarem com os diferentes conhecimentos humanos e
desenvolverem a sensibilidade de cidadão, conhecer seus direitos e deveres e,
sobretudo, adquirir um pensamento crítico para exercê-lo em quaisquer esferas
sociais que ocupem. Tendo isto em vista, podemos começar nossa reflexão sobre
como uma educação popular pode ser útil numa construção e oferecimento de
oportunidades e visões diferentes de mundo aos indivíduos das inúmeras
populações humanas.
A
educação popular não é algo imposto, obrigatório e maçante. Trata-se de um
diálogo que visa a construção dos conhecimentos. É estimulada pelo conceito de
afirmação do sujeito e como ele se encaixa dentro de uma sociedade. O saber
popular é combustível para a realização de atividades, é a base para o ensino
dos conhecimentos das ciências básicas que permeiam a civilização humana. A
educação é um ato prático de transformação social e justamente por isso não
pode deixar de ser atrativa e não pode ser considerada algo estático e que não
gera interesse do povo. Por isso é fundamental o pensamento que os
conhecimentos acadêmicos não subjuguem os saberes populares, e sim que estes se
complementem na construção de saberes pertinentes às vidas dessas pessoas.
Dentro
da academia temos o péssimo hábito de nos colocar sobre um pedestal do
conhecimento como se nós tivéssemos muito mais importância e uma riqueza que
parece que nem mesmo deve ser compartilhada. Isto é desprezível. O conhecimento
é um produto humano teoricamente feito para ser difundido, e assim que deveria
ser. Da mesma forma que conhecimentos populares ultrapassam as barreiras do
tempo e passam de geração para geração, assim deveria ser o conhecimento
produzido pela nossa espécie. Sem subjugar aqueles que não têm os títulos
acadêmicos, mas que tanto tem a dizer. Tanto tem a ensinar. Um dos maiores
objetivos de uma educação popular na contemporaneidade é servir de base para a
construção de ideias e a formação de sujeito que possam refletir sobre seus
papéis dentro de um contexto social. Isto torna a sociedade mais justa e
igualitária, ainda que hierarquizada. Dar aos indivíduos a oportunidade de
construir suas visões de mundo com um leque de oportunidades de reflexão não é uma
mera questão de bondade e sim de ética.
Então
como uma educação ultrapassada pode criar um diálogo com uma população?
Simplesmente se torna uma tarefa difícil que segue exatamente os interesses
daqueles que estão no poder. A invisibilidade social, a opinião massificada sem
reflexão e a ideia de que o que você sabe não é o suficiente para lutar por
algo são os pilares do controle que manipula nossas vidas. É exatamente nesta
situação que a educação popular se torna uma ferramenta de motivação,
transformação e reflexão. Ela é fruto de um conjunto histórico de lutas do povo
para o próprio povo. É levar em consideração a importância e as diferenças de
cada indivíduo e como isso é capaz de produzir conexões humanas essenciais. É
neste diálogo que as diferenças se tornam uma força crucial para a
transformação social.
As
diferenças de pensamentos, dentro dos parâmetros que estamos inseridos, nos
segregam e nos transformam em seres intolerantes, por diversas formas. Uma
delas é até mesmo a escola. A compreensão das diferenças é fundamental para uma
educação libertadora. É como o indivíduo pode se tornar consciente de que não é
um anônimo e que ele tem importância, e que representa uma parcela de um
coletivo de visões, histórias e ideias da transformação e da cultura do país.
Por isso, uma educação popular não é uma práxis tradicional, mas uma vivência
do saber compartilhado que cria oportunidades da reflexão e ação coletiva. Os
saberes populares devem ser tratados com a importância que eles tem servindo de
estímulo a uma educação tendo seu papel exercido através da afirmação dos
sujeitos e sensibilização de sua importância na sociedade.
Uma
educação popular surge para quebrar as fronteiras entre o conhecimento erudito
e o conhecimento popular. Afinal, se todos os conhecimentos são produtos
humanos, como discriminá-los e qualificá-los desta forma? Sob a ótica de quem e
para que? Esta prática ultrapassa o tradicionalismo, busca o resgate da
cidadania e ações para apresentar a percepção da inclusão de ideias e discussão
de visões. Isto é um ato de conhecimento que leva a transformação social aos
poucos.
Seria possível uma escola
pública popular? Bom, uma população que é oprimida diariamente de inúmeras
maneiras é estática pela desesperança estrategicamente inserida em nosso
cotidiano, ao mesmo tempo da ideia imposta do sujeito anônimo e sem
importância. E quem disse que alguém não é importante? Quem poderia dizer algo
assim? Uma educação popular, visa a justiça, a igualdade e a formação de
indivíduos conscientes de seus papéis, da sua cidadania e nas ações individuais
e coletivas de transformação social. Isto não interessa às minorias que detém o
poder, mas sim a maioria que acha que não tem o poder. Nenhuma mudança é tão
brusca, mas aos poucos é possível. Justamente por isso a educação se apresenta
como um ato de transformação social. Se nós, educadores, pensarmos em formar
cidadãos e não somente mão de obra e “aprovados no vestibular”, quem sabe isto
chegue mais rápido do que esperamos? O primeiro passo para algo assim acontecer
é termos consciência de quem somos e do que somos capazes. Desenvolvermos
diálogos, discutirmos diferenças de visões e chegarmos a algo mais próximo do igualitário.
Isto não significa tirar a importância de minorias oprimidas por razões
específicas, mas justamente transformar o povo num grande organismo que pode
discutir e decidir o próprio futuro.
É essencial lembrar para nós
mesmos que somos importantes, essenciais e que as nossas vozes podem ser
ouvidas. É lembrar aos nossos companheiros de vida, que é possível a
transformação para o bem comum. É, por fim, devolver a esperança e o orgulho de
ser você mesmo sabendo que você tem o poder da transformação. Essa é a
oportunidade dada por uma educação popular.
Renan de França Souza
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
sábado, 2 de fevereiro de 2013
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